quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

As Terras Prometidas

Passei a vida ouvindo meu pai dizer que éramos herdeiros de muitas terras. E passei a mesma vida ouvindo o mesmo pai me dizer que boa parte do oriente médio que falava o árabe era, na verdade, o mesmo país, que havia sido dividido para ser melhor governado, primeiro por ingleses, franceses e italianos, após o fim do império turco na primeira guerra; e agora pelos EUA e seu fiel companheiro Israel.
"Dividir para governar" não é nada novo. O duro é tentar convencer as pessoas no ocidente disso, de que uma certa guerra está sendo provocada por um país que está praticando, naquele preciso momento, a política de "dividir para governar". Pessoas que olham o jornal e só leem o que está na primeira página e, ainda assim, não conseguem, por falta de hábito, perceber entrelinhas. Eu passei e passo a vida apontando e sinalizando para todos os que conheço sobre a Palestina e os Palestinos, sobre a devastação do Iraque e da pilhagem de artefatos e sítios arqueológicos de mais de 5000 anos de história, sobre as atrocidades cometidas nas guerras do Líbano, em especial Sabra e Chatila (1982), dentre outros momentos que tocaram minha pátria de origem. Meu pai passou boa parte da vida dele defendendo uma postura nacionalista social, onde o nacionalismo traria a coesão entre países árabes, entre correntes islâmicas, entre islâmicos e cristãos. Só assim, acreditava meu pai e seus correligionários, os árabes seriam grandes de novo. Unidos e fortes, ao invés de fragmentados e divergentes.
Bem, para encontrarmos um responsável por uma dada situação, a pergunta é simples: Quem ganha com isso? Quem se beneficia do status quo?
Hoje o Egito está nas ruas, pedindo a cabeça de Hosni Mubarak. Seus aliados pedem que a transição seja "gradual". O medo do islamismo radical vem à tona, Israel teme perder o parceiro de 30 anos de jugo aos palestinos. A proposta de transição lenta ganha corpo com o VICE (leia-se "comparsa") Omar Sultani... mas as ruas não querem, os jovens não querem. Os jovens estão há dias na praça Tahrir e em outras ruas e praças, não têm nada mais a perder, ou ao menos pensam que não têm, pois sua pouca idade lhes dá a segurança, altivez, a pouca idade permite que percebam com clareza o que ocorre de fato. Os jovens de todas as idades e religiões, de todas as etnias que por milênios vêm formando o Egito, falam e sentem do coração, sabem da sujeira e não querem mais, sabem da verdade e não querem mais. Querem diferente. Mal sabem o que querem de fato. Penso que querem o que todos querem no Oriente Médio: Terra, a Terra Prometida, seu pedaço de vida e felicidade. A promessa vem de anos de obediência, de crença em algo como meritocracia, comum a todas as religiões que pregam a felicidade após o sofrimento.Terra Prometida pode ser o paraíso cristão, o paraíso muçulmano, o Lar Judeu ou uma casa e um emprego hoje, um almoço em família nesta semana, a liberdade de expressão e imprensa, a liberdade de manifestação de uma opinião. Meu prometeu a mim as terras da família. Meu pai prometeu lutar reunião de seu povo. A Terra Prometida é um sonho humano, não é privilégio de uma raça ou credo. Humanos somos, todos nós.

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