quarta-feira, 4 de março de 2020

Laurice e Iskanderun


Laurice saiu ainda pequena de Iskanderun (Alexandretta), provícia do norte da Síria que fora tomada pelos turcos/dada pelos franceses, no final da década de 30, durante o protetorado francês na região após 500 anos de domínio pelo império otomano.

Selo de Iskandaron durante o protetorado francês.


Sua família, os Merhi, e a família do meu avô Yourhaki, os Fahed, eram da mesma região - aliás, meus avós são primos. Como eram católicos e a região fora dominada por turcos muçulmanos, saíram com a roupa do corpo e perderam suas casas e suas terras. Eram bastante influentes na região. De lá se refugiaram em um mosteiro próximo, onde trabalharam por um tempo em troca da hospedagem, e se dirigiram ao Líbano, para recomeçar a vida. Minha avó recomeçou a vida várias vezes, duas imigrações, 3 dos 7 filhos mortos por doenças infantis, um filho alguns meses em hospital após acidente de ônibus, várias crises familiares... tudo "ala dahra", nas costas dela. Minha avó é forte demais, a vida a fez assim. Ela sabe admirar o valor das coisas pequenas, das plantas que crescem em um jardim, talvez porque simbolizem a paciência necessária para se criar raízes, crescer, frutificar e florescer. Exímia cozinheira, contadora de histórias e jogadora de baralho (a famosa tranca, uma variante do buraco), Dona Laurice é o centro de nossa família, e sua força vem de sua sabedoria, adquirida em uma vida que daria um filme.

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