sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Terfez, a lenda do raio no deserto


Embora se dissesse cético e materialista, meu pai tinha algumas manias e crendices bastante inocentes... era um prato cheio para camelôs, entrava em casa muitas vezes com produtos comprados em barracas... chás emagrecedores e xaropes (do árabe xarab, beberagem ou coisa de beber), facas de corte infinito, líquidos "copiadores" (nada mais que um solvente engarrafado: besuntava-se a capa de uma revista e então grudávamos a folha em branco, obtendo assim uma "cópia"...).
Ele era "o racional", mas ao mesmo tempo tinha essa pequena crença em uma magia do desconhecido, "ciências de baixa tecnologia", um quê de crença infantil... De certa forma, essa inocência justificava sua admiração por mitos antigos, deuses pré-cristãos, reis e rainhas com atos dignos de nota, lendas orais. Como a história de um "ser" do deserto, o Terfez, também conhecido como Ramech Alchamech Tufus .
Imagine-se em um deserto escaldante, perdido um dia inteiro, sem comida, sem abrigo e, para piorar, com uma tempestade se aproximando no horizonte: ventos, areia, raios e, com sorte, alguma água.
De repente, um raio cai muito perto de você, em um tronco abandonado. A tempestade toma outro rumo, e você pode sair de trás da pedra que serviu de abrigo para seu corpo fatigado e faminto. Então, buscando o calor, você se aproxima da árvore que ainda queima pela ação do raio. A força da descarga elétrica foi tão grande que expôs boa parte da raíz da árvore. Usando um galho aceso como tocha, você se aproxima da raiz, e percebe uma outra raíz, semelhante a uma batata, misturada na raíz da árvore. Trata-se do Terfez, a trufa do deserto, a prima menos valorizada das famosas e caras trufas européias. Não se trata de raíz ou tubérculo, mas frutificações de um fungo que aproveita a umidade da raiz da árvore para crescer sob a terra, e tira a enerergia que não produz, por não ter clorofila, da seiva da planta.
Meu pai contava essa história dizendo que o Terfez NASCIA do poder do raio, conclusão semelhante à do grego Plutarco e outros antigos, que acreditavam ser o fungo uma planta ou talvez até animal nascido da mistura da água, raios e calor.
O nome pelo qual o meu pai chamava a trufa do deserto eu infelizmente não me lembro. Encontrei os nomes Terfez, Ramech Alchamech Tufus e outros. Ele dizia que um viajante do deserto poderia ter a vida salva por esse fungo, conhecido pela humanidade a mais de 3500 anos.

Nenhum comentário: