domingo, 27 de setembro de 2009

A Culpa

Aprendemos a sentir culpa, a culpa católica, mesmo considerando-nos nada religiosos. Talvez seja justamente esse o problema, a falta de Re-ligião / re-ligação, não no sentido de crença mística, mas no que diz respeito à perda da raiz. O que mais pesa em um imigrante é a ruptura com sua terra natal. Quanto menos resolvida for a relação do imigrante com sua terra natal e com todos que ali deixou, menor a chance de sucesso duradouro na nova terra.
Em certa medida, eu e meu irmão fomos a projeção de futuro do meu pai. Ele olhava para nós e dizia que sua terra era nossa terra, seus amigos eram nossos amigos, seu sucesso era nosso sucesso, seus inimigos eram os nossos inimigos, etc. E sua vontade de retornar à terra natal deveria ser a nossa vontade, certo? Mas não é assim que funciona.
Com a morte do meu pai, uma estagnação talvez tenha tomado conta de mim e do meu irmão - ao menos essa é uma opinião a respeito. Pode ser só uma desculpa para os nossos recentes insucessos. Mesmo assim, acho que sentimos culpa, eu e meu irmão, por não termos sido o braço, a continuidade de nosso pai em seus desejos. Sei que isso soa meio estranho no ocidente das individualidades plenamente realizadas na independência total de cada ser. Mas não somos, dentro de nós, ocidentais por completo. Carregamos essa falta conosco, e isso nos oprime, nos impede de sermos tudo o que poderíamos ser. E como resolver isso? Como poderemos nos perdoar?
Como resultado, penalizamos o nosso futuro, as nossas famílias atuais, as pessoas que nos amam e nos rodeiam, que acabam não conseguindo contar conosco, nem tampouco nos ajudar a sair do labirinto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Esta questão do imigrante e da imigração não tem a ver só e tão somente com quem vem de fora do país.
O Presidente Lula é um emigrante, tambem deixou raízes e criou outras em outros lugares. Eu acredito e muito que quando aprendemos a criar redes de comunicação e relacionamento, a imigração pode ser a melhor ponte e facilitadora destes contatos.
Saber criar oportunidades e saber aproveitar e bem utilizar estas oportunidades.
Como pessoas, podemos ser culpados ou culpar... cabe a nós saber como operar com aquilo que nos foi deixado, seja como herança educacional, seja como herança genética.
Quando seus amigos pensam em ter voce como guia para uma viagem de turismo aos países de origem de seus pais, isto pode ser até uma oportunidade de trabalho.
Quando falamos de culpa, ela sempre tem a conotação da dívida, com voce mesmo, ou com alguem a quem voce quer bem ou não...
Eu entendo que a culpa deveria desaparecer quando a pessoa está centrada e fazendo aquilo o que ela se dispos a fazer.
Quando religiosamente cumprimos com nossas decisões e colocamos nossos projetos e ações dentro do exequivel, previlegiando cada um dos aspecto de nossas vidas e dentro de horarios e energia despreendida no possível, dormimos o sono dos justos e acordamos prontos para mais uma jornada.
Não é simples assim, mas funciona e voce tem a experiencia disso em mais de uma passagem em sua vida.
O que tenho mais a dizer, é que se a imigração não tem volta, e isto ficou provado com a volta de seu pai a Bdada e à Síria, então também não nos sentimos totalmente integrados dentro do novo espaço escolhido, cabe a nós inventar a nova pertinencia, criar a nova tribo e ou as multiplas tribos com as quais queremos nos assimilar.
Temos a rede de amigos, colegas de escola, blogueiros, marqueteiros, estatisticos, TI, pais, caminhadas, da academia, da universidade... enfim o que não falta ao humano do seculo XXI é a criação de mais uma tribo, resta saber se damos conta de tantas aberturas, quais dessas tribos nos agrega, mais valias seja no espiritual, material, nos questionamentos, qual destes relacionamentos me faz melhor como pessoa humana..
Claude