terça-feira, 7 de outubro de 2008

O Poeta

Em diversas ocasiões comemorativas da comunidade sírio-libanesa a figura do poeta surgia, apresentada como motivo de orgulho. Na sociedade árabe, um poeta tem, ou ao menos me parecia ter, tanto valor quanto um médico, engenheiro ou advogado. Como um menestrel, um bardo, ou mesmo um xamã, o poeta canta seus versos, com eles envenena ou cura, eteriza e torna eterno o pensamento: o poeta é um arauto do sentimento humano. Meu pai e alguns de seus amigos arriscavam poesias, normalmente de cunho patriótico, ufanista e saudosista. Eles eram exilados, o tipo de rejeição mais ampla que alguém pode vir a sofrer. O exílio, como privação forçada da terra e da cultura, é como a morte e a privação que esta causa à pessoa que fica. Do morto e da terra proibida só se falam as boas coisas, e esquecem dos seus defeitos. Não deixam a terra nova ocupar o lugar da velha, muitas vezes impedindo que um novo amor aflore. Mas, ocorre que os laços com a terra mãe vão se tornando menos intensos, e um dia, quando é possível escolher entre a nova e a velha terra, os exilados escolhem ficar onde estão, onde reaprenderam a vida e fincaram novas raízes, apesar das pedras. Talvez tudo seja culpa da poesia. Afinal, resolvendo-se os conflitos, de onde tirarão inspiração aos seus poemas e reclamações? A musa ideal é platônica, quase um pleonasmo triplo.

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