sábado, 4 de abril de 2009

Uma casa de portas abertas

O povo sírio é muito hospitaleiro, adora receber visitas, hóspedes, realizar almoços grandes e com todos os pratos que couberem ou não couberem à mesa.
Pessoas se hospedávam por semanas ou meses na minha casa. Ou seja, moravam conosco. Eram de origem árabe, tinham necessidade de fazê-lo, eram árabes residentes em outra parte da América Latina, ou eram companheiros do partido político do meu pai, (Caumi Suri ou Nacional Social Sírio, fundado por Antoun Saadeh na década de 30 e que foi proibido na Síria e no Líbano por muitos anos, razão que levou meu pai e meu avô paterno e sua família a imigrarem), ou tudo isso junto... O fato é que minha casa era algo muito aberto, meu pai foi por bom tempo o presidente do Partido Caumi no Brasil e conhecia muita gente, muitas das assembleias eram realizadas em casa.
Crescemos entendendo que gente de fora era visita e deveriam ser tratados com o devido respeito, mesmo que tivéssemos que ceder uma cama ou um quarto por algum tempo.
Os cafés da manhã com visitas eram mais requintados e demorados, os almoços e jantares eram sempre especiais e tinham a supervisão da D. Claude, minha mãe, que no dia a dia delegava a cozinha à empregada, pois sempre trabalhou fora. Já minha avó Laurice sempre trabalhou em casa, e até hoje cozinha a maior parte da comida que serve nos almoços de família. A casa dos Fahed (sobrenome do meu avô materno) sempre foi muito hospitaleira, como a maioria das casas de sírio-libaneses que conheci. Não se almoça sem comer de tudo, não se sai de lá sem tomar ao menos um café e um doce ou fruta. E se a visita for adepta de um baralho, dai vai ficar por horas, comerá toda a variedade de aperitivos do almoço até a janta, quando os tios e primos vão entrando na cozinha meio que sem avisar, e voltam a comer - é quando a visita acaba saindo da mesa para fazer um prato, muitas vezes voltando com o prato nas mãos.
Na Síria, em Bedada, a Aldeia natal do meu pai, você sendo um estrangeiro ou forasteiro, simplesmente não consegue andar 200 metros sem ser convidado ao menos para um café com chocolate. Uma visita é o outro em sua vida, e a imagem que projetamos para fora é muito importante para os sírio-libaneses, o orgulho árabe e o culto à autoimagem é algo muito forte.

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