Na década de 70 era um hábito do meu pai visitar a gráfica do Nauaf Harden, e muitas vezes ele me levava consigo. Nauaf redigia um pequeno jornal escrito em árabe (acho que o nome era "Al Sabah", que significa "A Manhã", mas tenho que consultar os mais velhos...), voltado aos imigrantes árabes, com notícias relevantes das terrinhas. Eu ficava lá, admirando aquela prensa, mexendo nos tipos de chumbo, enquanto Nauaf e Hanna discutiam a política e discordavam bastante.
Nauaf publicou um livro em português contando a história de Cartago ("O Cartaginês") e de Aníbal, o belo e sua derrota sob o jugo romano.
Nunca entendi direito as divergências entre Nauaf e meu pai, mas elas foram fortes o suficiente. Por conta delas, dentre outras, meu pai foi se afastando do partido político sírio, o nacional social sírio, que ele presidiu e ajudou a manter no Brasil. Embora nunca saísse de fato nem perdesse contato total com diversos amigos, Hanna só foi buscar uma retomada nos contatos com intuito de voltar a influir no partido "caumi suri" no ano de sua morte. Eu não leio árabe, e nunca pude me aprofundar nos escritos do meu pai, mas ele produziu muito, embora desordenadamente, a vida toda, e em especial no ano de sua morte. Sua maior obra talvez tenha sido plantar homens e idéias em torno de um projeto político ideal para a Síria, seu país de origem (que ele amava de uma maneira talvez incompreensível para muitos ocidentais hoje), e para o seu partido.
A tradução literal de "Bet Hajjar" (ou "bêit", ou "bait", dependendo da pronúncia) é "Casa dos Hajjar". Somos resultantes de nossas raízes e da interação deste conhecimento herdado com o processo de assimilação da figura do outro. Quando essas raízes mudam de terras, muitos dos nossos referenciais mudam. Estes textos são expressões livres de memórias que me são muito caras, e que influenciaram o que sou hoje.
domingo, 24 de agosto de 2008
A Gráfica do Nauaf Harden
Eu sou muitas coisas, incluindo alguém que não curte minicvs. Comunicador social, com pesquisa de mestrado sobre como a mídia mostrou a guerra na Síria, com ênfase no Oriente Médio... mas não sei se isto explica os textos (ao menos até Agosto/2012). Desde 2016 vivo em Helsinki, Finlândia, e venho postando timidamente histórias e observações sobre o mundo sob esta nova perspectiva imigratória.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário