sábado, 7 de junho de 2008

A casa da Capitão Mor Passos


São Vicente foi o lar dos Fahd por vários anos. Lá nasceu a primeira pessoa da família no Brasil, Aliçar, a irmã mais nova de minha mãe. Após 1968(?), a família mudou-se para São Paulo, para a casa da Rua Capitão Mor-Passos, no bairro do Pari.
A casa era um sobrado grande, habitado em cima pela família do meu avô Yourghaki, e na parte de baixo pelos proprietários. Entrava-se na casa por um pequeno portão que dava em uma escada até a sala indo reto, um corredor dava acesso ao quarto dos meus avós, a uma copa e a um grande banheiro antigo com banheira, terminando em uma cozinha grande. Ainda tinha quarto e banheiro de empregada e um quintal.
Cresci nessa casa e nas dos meus pais, primeiro um apartamento pequeno, desses com a porta na calçada e sem garagem, no Brás. Depois o sobrado da R. Guarantã, bem perto da Capitão Mor-Passos, e depois uma casa de vila lá perto também. Mas a casa da Capitão era o centro da família, as reuniões, almoços, festas, quase todas eram lá.
Cresci solto, ainda bem pequeno eu podia brincar com as crianças da vizinhança. De lá também fui com minha avó Laurice, de ônibus, levar o almoço do meu avô até a loja da oriente.
Para os sírio-libanêses, ou ao menos para esses com quem cresci, comer e beber são praticamente sinônimos de viver. Reunir a família em torno de uma mesa, homens no aperitivo com meu avô, mulheres ajudando na cozinha... machista, sim, mas era como era e tinha seu aconchego em sendo assim, como toda a tradição. Aliás, ainda tem... embora eu cozinhe na minha casa, e minha esposa não tenha o costume, por vezes ela veste o papel dessa mulher matriarca, busca - sem necessidade - a aprovação das outras mulheres fazendo um prato típico, e eis que me pego idiotamente orgulhoso disso. A casa da Capitão era muito mais que uma casa, lá foi concebido o nosso pequeno "clã", com todos os seus vícios e virtudes.

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