domingo, 26 de agosto de 2012

Os Aniversários de Hanna Hajjar

Hanna Hajjar nasceu, provavelmente, no primeiro dia de janeiro de 1937, na aldeia de Bedada, próxima ao município de Safita, Estado de Tartous, na Síria. Digo provavelmente, pois seu documento de identidade indicava 1938 e, na Síria, assim como no Brasil, não era hábito registrar as pessoas imediatamente após o nascimento, como ocorre hoje.
Isso fazia com que as festas de Ano Novo na minha casa fossem excepcionalmente fartas e cheias de amigos da família e do Partido Nacional Social Sírio, do qual falei em textos anteriores neste blog. Por conta desse partido, contrário ao governo Sírio e que foi lá proibido, que meu pai imigrou para o Brasil. Foi uma das grandes paixões de Hanna. Ele presidiu o partido por um tempo, e foi responsável por boa parte de sua da atividade política aqui no Brasil. No final da década de 1980, Hanna abandonou o PNSS e, em paralelo com outras crises pessoais e L financeiros ruins, começou a colecionar pensamentos e ações que abalaram seu moral. Após ter sido cercado por tantos amigos e colegas, Hanna sentia-se sozinho. Essa solidão foi expressa no Réveillon de 1987. Eu acabara de me formar no ensino médio, e havia lotado a casa de praia, onde comemoramos várias vezes o Ano Novo, com amigos meus. Naquele ano, não havia nenhum dos amigos do meu pai. Em dado momento, Hanna se irritou com a bagunça que fazíamos e gritou comigo, dizendo: "É o MEU aniversário!". Eu, obviamente, me ofendi, e disse a ele que, se queria amigos, deveria tê-los convidado. 
Há algum tempo vejo que meu telefone não toca. Questiono-me se isso não é decorrência de meu enfraquecimento moral. Júlia e Rejane têm outros compromissos, aos quais nem sempre sou convidado. Em alguns não quero mesmo ir, talvez por acreditar que o meu "moral abalado" seja perceptível em meu olhar, em minha transpiração, ou nas minhas atitudes. Mais uma vez, ponto para o cara lá de cima. Está mais do que provado que me pareço muito com o Hanna, e que minha vida segue curso semelhante, como o inexorável tracejado de um rio. Esse rio necessita, urgentemente, de barragens, desvios e transposições. Serei capaz de construí-las?
No último ano de sua vida, no dia do meu aniversário, eu iria reunir alguns amigos em casa. Meu pai apareceu no começo da noite no meu prédio, pediu para eu descer. Havia encomendado algumas esfihas e outras coisas para a minha festa. Convidei-o para subir, mas ele estava atrasado. Falou-me que andava em contato com o "núcleo duro" do antigo PNSS, que voltara a escrever e que, naquela noite, iria se encontrar com o poeta Youssef Mousmar e outros amigos do partido. Estava muito animado. Talvez tenha sido o melhor presente que recebi dele em muitos anos.

2 comentários:

Anônimo disse...

1987, eu estava lá...lindo texto Ba, bjs dandan

K.Kobeissi disse...



Hanna Hajjar, seu pai, era um amigo e super amigo amigavel,,so dois dias atraz descobri seu Blog..por isso estou escrevendo pra voce para dar meus pesamos.

Hanna era ligado sempre a terra onde ela pretence..era fiel a tudo e tenho orgulho que ele ocupa um bom espaco da minha memoria, por issso ele nao morreu espiritualmente pelo menos.

abracos

K.Kobeissi