quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Férias no Rio de Janeiro

Meu pai era um comerciante, um representante autônomo. Significava que ele pegava amostras de vestuários, calças jeans, sarja, jaquetas, dentre outros, dos fabricantes do Brás, em São Paulo, e ia vender em outras praças, principalmente no Rio de Janeiro. Normalmente ficava uns 3 ou 4 dias da semana no Rio, dependendo da época até mais. Em dezembro, por conta das vendas de Natal, ele acabava ficando 10, 15 dias ou até mais, vendendo nas imediações da rua da Alfândega e nas cidades próximas à capital daquele Estado, como Nova Iguaçu, São João de Meriti e outras. Após meus 11 ou 12 anos, fui algumas vezes nas férias escolares de dezembro ao Rio. às vezes íamos todos, e eu e meu irmão ficávamos mesmo de férias, passeando no Rio com minha mãe. Mas conforme fui crescendo, fui algumas vezes com meu pai. Ficávamos hospedados num hotel do centro, próximo à praça da República, chamado Presidente. Eram dias cansativos, mas bons. Acordávamos cedo e andávamos umas 6 quadras até a loja do Salim Ghazi, na verdade ele era gerente de uma das 3 ou 4 Novex, lojas de moda popular do seu tio George Ghazi. Era um grande amigo do meu pai, e eu achava engraçado o sotaque "carioqueish-árabe" dele. Meu pai rodava comigo o dia todo, às vezes eu cansava e ficava na Novex do Salim Ghazi, ou no Hotel. Era uma vida louca e diferente da minha, com meus pequenos problemas de amores e amigos. Dos 10 aos 12 anos eu devo ter me apaixonado uma dúzia de vezes, e era muito doloroso. Além disso, tinha umas questões de brigas com amigos... com doze anos tudo é muito intenso... Estar perto do meu pai tinha esse lado bom também, eu podia perguntar a ele coisas "de homem", ele me tratava como adulto, às vezes até eu tomava cerveja com os amigos dele. Sim, hoje seria um absurdo, a geração pós-80 é mais puritana. Enfim, lembro do Rio de Janeiro como um local sem mar, apenas prédios, calor infernal, muitas andanças e do meu pai. Fui apresentado ao "malandro carioca", meu pai me aconselhava a ter cuidado pois eram todos muito "expertos", então uma vez um vendedor de loterias deixou cair um bilhete, e eu prontamente peguei. Dai, cheio de ginga, o vendedor fala "ai, garoto, de repente é teu dia de sorte!", como se o destino tivesse sorrido para mim e fosse retribuir minha gentileza com um prêmio.
Uma das vezes, me lembro que iríamos encontrar minha mãe meu irmão no Guarujá, num hotel. Voltamos pela Rio-Santos. Viajávamos à noite, pegávamos o último ônibus, pois dai dormíamos a viagem toda. Nesse dia, meu pai me acordou pela manhã, e eu fiquei vendo como era lindo o caminho até Santos, sol nascendo, praias lindas. Pegamos a balsa e um taxi, e chegamos ao hotel. Meu pai deveria ter a minha idade hoje, minha mãe era 14 anos mais nova que ele. O mundo sorria forte para os dois, a vida apenas tinha começado, e tudo ainda era um mar de boas possibilidades. Eu me sentia forte e dentro do meu papel, um papel que eu não sabia que tinha, mas que marcou o resto da minha atuação.


Talvez ali eu tenha comprado a crença de que poderíamos fazer coisas juntos, algo como uma empresa, eu e meu pai, e talvez meu irmão, se ele quisesse.

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