quinta-feira, 26 de julho de 2012

Somos fanáticos?

Desde cedo, fui apresentado a uma realidade ligada diretamente ao motivo da imigração de meus pais, e consequentemente de meu nascimento ter se dado no Brasil, e não na Síria ou Líbano, os países de origem dos meus pais. A questão estava ligada à insatisfação do povo árabe com a política internacional que regia as relações entre o mundo e o oriente médio. Explicaram-me que os árabes, de quaisquer países, tinham em Israel seu inimigo comum. Israel havia sido "plantado" no seio de uma sociedade outrora chamada de Palestina, que por sua vez fazia parte do que os correligionários dos meus pais chamavam de "Grande Síria". Fui doutrinado a ver uma realidade que poucos viam, e que muitos chamariam de mania de perseguição: O ocidente em geral não gostava dos árabes, e ainda apoiava seu inimigo, Israel e os Sionistas. Essa doutrinação se deu em casa mesmo, pela leitura diária das notícias internacionais sobre o Oriente Médio, pela percepção de que palavras como "milicianos", "oposicionistas", "guerrilheiros" e "terroristas" poderiam ser utilizadas pelos jornais para tentar influenciar a opinião pública em prol desta ou daquela causa,
Assim, um atendado engendrado pela Al Qaeda tem peso de "terrorismo" no Iraque pós guerra, mas se ocorrer na Síria de hoje pode receber status de "oposição legítima ao regime". Da mesma forma, palestinos que lutam desde 1948 pelo direito de ter um país, retornar a suas terras roubadas pelos fundadores do atual governo de Israel, são chamados de "terroristas", pois essa palavra indica à opinião pública que atos provenientes de palestinos não possuem legitimidade, e têm apenas a função de "criar terror". A causa do "guerrilheiro", ou do "oposicionista" pode ser legítima, a causa do "terrorista" nunca o é.
Ainda sobre os caminhos da minha doutrinação, cresci em meio a reuniões de família, onde sempre havia a presença de "tios" e "primos" que não eram familiares, mas eram imigrantes como nós, e  pelas reuniões de cunho político que constantemente ocorriam na minha casa, reunindo árabes cristãos ortodoxos e maronitas, muçulmanos sunitas e xiitas, Palestinos, Libaneses e Sírios, todos reunidos compartilhando a ideia de que o melhor governo para um país árabe seria um governo laico. 
Da década de 70 até hoje, o que observei foi um acirramento das diferenças, ao mesmo tempo que percebi uma midia muito mais preocupada em vender jornais e estar alinhada com uma tendência,  do que em correr atrás da verdade. Meus amigos não árabes identificam-me como um crente em teorias da conspiração. Eu mesmo, conversando muitas vezes com meu irmão, me questiono se seria uma visão fanática e enviesada essa nossa. Afinal, o jogo geopolítico é, na maioria das vezes, grande demais para ser algo crível. No entanto, manter-me com um ou muitos pés atrás faz parte de quem eu sou. Nunca vou perder minha doutrinação. Posso racionalizar. Posso quebrar preconceitos. Mas sempre questionarei a linha oficial, e por oficial leia-se Ocidental, para o trato com o Oriente Médio, porque é isso que faço. Em minha defesa, eu digo que conspirações existem por toda a parte. Oligopólios e monopólios são conspirações, corrupção nos governos são conspirações. O movimento que prometeu a palestina aos palestinos e a Sionistas foi uma manobra. O que chamamos de Geopolítica, a manipulação das relações entre países, visando favorecer uma ou algumas posições, em detrimento de outras, não deixa de ser um tipo de manipulação. Sim, somos fanáticos, somos fãs incondicionais de nossos ideais.

Um comentário:

Silvio disse...

Muito lúcido o teu fanatismo. Para mim a maior de todas as conspiracoes é a religiao, que impulsiona e justifica tantos conflitos políticos.
Abrax!